segunda-feira, 26 de abril de 2010

O Valor do Tempo

   Olá! Voltando à ativa depois de um bom tempo pretendo hoje, justamente, gastar um pouco de tempo falando sobre o tempo. O que é o tempo? Na ampulheta o tempo é uma areia que cai. No relógio é um ponteiro que roda sem parar. Em um aniversário é marcado através das velas que vão em cima do bolo. Meros mecanismos que encontramos para nos localizarmos nessa dimensão chamada Tempo. E assim, inventamos o tempo e nos tornamos prisioneiros dele! Vivendo em função de horários definidos, marcados pelo fiel ponteiro que nos diz onde devemos estar e o que devemos fazer. Aprisionamos as crianças ao tempo desde cedo: “Quando este ponteiro estiver aqui, você pode ir brincar.”


   Penso em como eram as coisas há um tempo atrás, quando eu ainda era pequeno, quando tudo era demorado, tão diferente de hoje em dia, cercados por fast-foods, e toda a velocidade que evidencia a vida urbana. Até maquina de fazer pão inventaram! Você coloca os ingredientes e programa para a hora que quiser que fique pronto e lá está o pão “caseiro” quentinho. Mas o que mais chama a minha atenção é que apesar de toda a velocidade que a tecnologia nos proporcionou, a cada dia que passa, menos tempo temos! Esse aumento na velocidade em nossas vidas é sem dúvida um dos grandes problemas da atualidade.

   Uma frase do Russell faz com que pensemos a respeito do nosso tempo: “O tempo que você gosta de perder não é tempo perdido.” Ficar “perdendo tempo”, ou então “matando tempo”, quantas vezes usamos essas expressões? Como se fosse possível perder ou matar o tempo! Falamos dessa forma porque somos cheios de “deveres” e quando não ocupamos nosso tempo com o “dever”, achamos que estamos “perdendo tempo”. Pura bobagem! Preste atenção com o que costuma perder ou matar seu tempo, nesses momentos você está sendo regido pelo princípio do prazer e não do dever, o que faz nesses momentos é o que tem prazer em fazer com seu tempo, por isso não está perdendo coisa alguma!

   Bom, esse é um ponto a que queria chegar, o outro é com relação ao valor do tempo. Vou explicar. Quando falamos de tempo, estamos nos referindo a duração. E como bons prisioneiros do tempo costumamos valorizar a duração das coisas. Tudo o que já acontece ou fazemos há bastante tempo, costumamos valorizar. Mas como diz Proust “os dias podem ser iguais para um relógio, mas não para o homem”, nós temos uma dimensão inconsciente, que é atemporal, sendo assim o valor do tempo para nós é bastante relativo. Valorizar as coisas pelo tempo que elas duram não faz muito sentido. Exemplo: Uma pessoa passa vários anos estudando algo para exercer bem uma função; outra, causa um acidente por estar embriagada e fica paralítica além de perder sua esposa e filhos no acidente. Com certeza, as duas vivenciaram um aprendizado com suas experiências, mas será que o aprendizado de anos foi mais valioso que aquele que ocorreu em alguns instantes? Outro exemplo: Um casal se conhece ainda na adolescência, namoram e casam, vivem juntos no total por dez anos. Outro casal, depois de cada um ter tentado inúmeras vezes encontrar alguém, conheceram-se ao acaso, apaixonaram-se, e um ano depois resolveram morar juntos e ter um filho. Agora me diga, qual desses relacionamentos é mais valioso? O que dura a mais ou menos tempo? Bom, estou querendo apenas provocar e fazer você pensar o quanto pode ser insignificante o tempo, o quanto não devemos depositar nele, o valor das coisas. Nas palavras do poeta:

“O valor das coisas não está no tempo que elas duram,
mas na intensidade com que acontecem.
Por isso existem momentos inesquecíveis, coisas inexplicáveis
e pessoas incomparáveis.”
(Fernando Pessoa)


   Um cantor certa vez disse: - Levei vinte anos para fazer sucesso da noite para o dia! Eu não concordo, seus vinte anos de dedicação foi o que o levaram a fazer sucesso, o que aconteceu foi que ele tornou-se famoso da noite para o dia, ainda assim, não por acaso. É uma forma dele ver seu passado de forma pessimista. Mumford, fala que pessoas conservadoras costumam ser pessimistas com relação ao futuro e otimistas quanto ao passado. Melhor mesmo é não se prender no passado e nem no futuro, ficar no aqui-e-agora! Afinal é no presente que tudo acontece! Quando o futuro vira passado, é fácil ver o que tinha que ser feito. Mais uma vez dou a palavra ao gênio: “Nunca penso no futuro, ele chega rápido demais.” (Albert Einstein) Esse sabia mesmo das coisas, era tão ligado ao presente que o futuro chegava rápido pra ele. E é bem por ai que tem que ser, quanto mais ligados ao presente, em construir o futuro ao invés de pensar nele, mais rápido chegamos a ele!

   Por fim, quero falar de um tempo bem particular, o seu tempo, o meu tempo, o tempo de cada um. Alguns precisam de mais tempo pra isso, outros precisam de mais tempo pra aquilo, respeitar o tempo de cada um é fundamental. A pressão social de atingirmos determinados “objetivos” em determinada idade é o que mais dificulta que respeitemos o nosso tempo e o tempo do outro. Muitas vezes querendo “ganhar” tempo acabamos nos prejudicando imensamente. Jamais diga que nunca teve tempo pra fazer algo, se realmente deseja fazer, o tempo é agora. Antes de respeitar o tempo do mundo, respeite seu próprio tempo.

“Eterno é tudo aquilo que dura uma fração de segundo, mas com tamanha intensidade que se petrifica, e nenhuma força jamais o resgata.”
(Carlos Drummond de Andrade)